Crise no setor de limpeza: Confiança despenca e ABIPLA alerta para desindustrialização e riscos à saúde pública
- Ethos
- 22 de abr.
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Entidade que representa o setor de produtos de limpeza avalia os primeiros meses de 2025 e analisa a queda na confiança do empresário industrial, que caiu para o menor índice desde 2021

O ICEI Setorial – Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) no setor de produtos de limpeza caiu para 47,6 pontos, o menor patamar desde março de 2021, segundo levantamento da CNI – Confederação Nacional da Indústria. O dado, na visão da ABIPLA, Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional, reflete o sentimento predominante entre os empresários do setor no início de 2025: um cenário de retração, incertezas e risco de desindustrialização.
A queda na produção confirma esse pessimismo. “Em janeiro, a indústria de produtos de limpeza recuou 10,7% na comparação com o mesmo mês do ano anterior”, comenta Paulo Engler, diretor-executivo da ABIPLA. No acumulado do primeiro bimestre, a retração foi de 3,5%, segundo dados do IBGE. Apesar de a inflação no setor estar controlada — com alta de apenas 1,28% no ano, abaixo dos 2,04% do IPCA geral —, a demanda segue instável, e os estoques no varejo e na indústria continuam elevados.
Indicadores do setor de limpeza – 2025:
-Queda de 10,7% na produção em janeiro (IBGE);
-Retração de 3,5% no acumulado do bimestre;
-Inflação do setor: 1,28% (abaixo dos 2,04% do IPCA);
-Mais de 100 fábricas encerraram atividades, representando um corte de mais de 1.000 postos de trabalho;
-ICEI Setorial de março de 2025: 47,6 pontos, índice mais baixo desde março de 2021.
De acordo com a ABIPLA, mais de 100 fábricas de pequeno porte e microempresas encerraram suas atividades recentemente, provocando a perda de cerca de mil postos de trabalho diretos. Esse cenário de fechamento de empresas não está concentrado em um único estado, mas é pulverizado em várias regiões do país, agravando a situação econômica de diversos locais. A maioria das empresas restantes opera com capacidade ociosa, sem necessidade de turnos extras.
Prejuízos no longo prazo
“A estagnação nas vendas, a ausência de reajustes e o fechamento de fábricas mostram que atravessamos um momento crítico. O setor de saneantes é estratégico para a saúde pública e não pode correr o risco de desindustrialização. Uma fábrica que fecha hoje, dependendo da sua área de atuação, pode demorar meses ou até anos para ser reposta e toda a cadeia fica prejudicada”, afirma Engler.
Além da desestabilização da cadeia produtiva, a crise atual também compromete a capacidade de investimento em inovação do setor. “As margens reduzidas dificultam os aportes em pesquisa e desenvolvimento. No longo prazo, isso mina a competitividade da indústria nacional, lembrando que hoje somos o quarto maior mercado de produtos de limpeza do mundo e um dos segmentos que mais investe em inovação na indústria brasileira. Ou seja, crescemos à base de pesquisa e desenvolvimento de produtos. Não podemos interromper os processos de inovação na indústria”, observa o diretor-executivo.
Ele explica ainda, que possíveis repasses de aumento de custos de energia e embalagens dos produtos de limpeza costumam frear a demanda de saneantes, por isso, é comum que a indústria absorva parte das altas dos preços, especialmente em momentos de alta volatilidade. “Nossos produtos são muito sensíveis a preço e os repasses de custos têm de ser muito bem planejados para não impactar na produção. Prova disso é que a inflação setorial é menor que a inflação geral. Esse cenário afeta especialmente as micro e pequenas empresas”, relata Paulo, lembrando que cerca de 96% das empresas que compõem o setor são microempresas ou empresas de pequeno porte.
Informalidade preocupa
Outro fator de preocupação é o mercado informal de saneantes que, apesar de ter recuado nos últimos anos, ainda representa um risco à saúde pública e à competitividade das empresas do setor.
Contratada pela ABIPLA, a Pesquisa realizada pela Mosaiclab mostra que, entre 2021 e 2023, a participação de produtos clandestinos, no mercado doméstico de saneantes, caiu de 22% para 11%. Ainda assim, o segmento movimenta cerca de R$ 3,5 bilhões por ano.
“A participação de produtos ilegais, muitas vezes sem rótulo, registro ou qualquer controle sanitário, representa uma ameaça real para os consumidores”, alerta Engler.
Além do aumento da fiscalização e da responsabilização de quem produz e comercializa produtos sem registro, a ABIPLA defende a realização de campanhas nacionais de conscientização sobre os riscos da informalidade, com foco em orientar o consumidor a sempre verificar se o produto possui registro na ANVISA. “O consumidor tem um papel essencial no combate à clandestinidade. Um produto mais barato, mas sem procedência, pode gerar riscos graves à saúde de toda a família”, finaliza Engler.