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Ecoansiedade: Educação e ação coletiva contra crise climática

A sensação que mistura preocupação constante, impotência e angústia diante das mudanças climáticas, cresce silenciosamente em todo o mundo





Reprodução
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O medo de um futuro incerto para o planeta tem nome: ecoansiedade. Essa sensação, que mistura preocupação constante, impotência e angústia diante das mudanças climáticas, cresce silenciosamente em todo o mundo. Mas, como revela a mestre em Políticas Ambientais Gabrielle Nunes, essa ansiedade não é sentida da mesma forma por todos.


Ela se entrelaça com as desigualdades sociais e ambientais, agravando ainda mais o sofrimento de quem historicamente já enfrenta condições mais precárias."A chave é agir localmente e pensar globalmente. É somente através do coletivo que atingimos mudanças sistêmicas" disse Gabrielle.


Apesar de ser um fenômeno global, a ecoansiedade afeta as pessoas de maneiras distintas. Para Gabrielle, enquanto camadas mais privilegiadas da sociedade têm acesso a suporte psicológico, as populações marginalizadas, negras, indígenas e periféricas sentem a ecoansiedade de forma mais profunda."Essas comunidades enfrentam, além da preocupação com o futuro, as consequências diretas do racismo ambiental: degradação das suas terras, falta de recursos e maior vulnerabilidade a desastres naturais", explica.


O vínculo ancestral dessas comunidades com a natureza torna a perda ambiental não apenas uma crise ecológica, mas também uma ameaça direta à identidade cultural e espiritual desses povos.


Sensacionalismo e a Perpetuação do Medo


Gabrielle aponta também para um ator muitas vezes esquecido nesse cenário: a mídia tradicional."A mídia noticia os desastres quando eles já estão acontecendo. Isso não educa para a prevenção, apenas alimenta o pânico." O sensacionalismo nas coberturas climáticas transforma problemas complexos em tragédias inevitáveis, reforçando o medo e o sentimento de impotência. Para a especialista, é urgente que a comunicação ambiental seja repensada, trazendo mais soluções e ações concretas e menos espetáculo do desastre.


Como Transformar a Ansiedade em Ação Positiva?


Gabrielle propõe a educação e a ação prática como antídotos contra a ecoansiedade. "Quando as pessoas entendem que podem agir seja consumindo de forma mais consciente, apoiando políticas públicas sustentáveis ou cobrando acesso justo a áreas verdes, elas deixam de se sentir impotentes" ressalta.


O contato direto com a natureza, segundo ela, tem poder terapêutico comprovado: reduz ansiedade, estresse e aumenta o bem-estar emocional. Criar espaços verdes acessíveis para todas as comunidades não é apenas uma questão ambiental, mas também de saúde pública.


Essa visão é reforçada por Natalia Balbino, mestre em Ensino de Ciências, que atua na linha de frente da educação ambiental nas escolas."Muitos jovens já têm consciência, mas também carregam um peso enorme. Eles sentem que estão herdando um problema gigantesco, e que as mudanças são lentas demais" diz Natalia.


O caminho está em sair da teoria e investir em práticas reais: hortas escolares, projetos de reciclagem, passeios para entender o impacto do lixo urbano, atividades que permitem ao jovem perceber seu papel na mudança e transformam a ansiedade em ação."Quando os estudantes percebem que têm voz e podem agir, o engajamento muda completamente."


Para Gabrielle, um dos caminhos mais poderosos de enfrentamento da crise ambiental e da ecoansiedade é o fortalecimento dos coletivos locais "seja organizando hortas comunitárias, mutirões de limpeza ou pressionando por políticas públicas. A atuação coletiva fortalece, gera apoio emocional e promove mudanças sistêmicas."


Ela também enfatiza a importância da participação política:"Precisamos apoiar candidatos que tenham compromisso com a justiça ambiental e cobrar que as decisões políticas priorizem a proteção dos ecossistemas e o combate às desigualdades."


No cenário atual, a ecoansiedade não é um sinal de fraqueza, é uma resposta humana a uma ameaça real. Mas como mostram Gabrielle Nunes e Natalia Balbino, é possível transformar esse medo em movimento, desespero em resistência e ansiedade em ação. A luta contra a crise climática é, também, uma luta pela saúde mental, pela justiça social e pela construção de um futuro em que a esperança não seja exceção, mas regra.

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